quinta-feira, abril 09, 2009

Crítica - Posso estar só, mas SOU de todo mundo



Vamos falar um pouco de música. Para quem já conhece o trabalho dos Los Hermanos, agora é hora de todos os olhares se voltarem para Marcelo Camelo, apenas para o camelo. Depois de uma profícua carreira ao lado dos Hermanos, Camelo nos apresenta Sou/Nós com toda a competência de seu trabalho como o conhecíamos e a energia de um disco em que o artista impõe o seu nome na capa pela primeira vez.

Lançado em 2008 e com o título inspirado no poema visual de Rodrigo Linares, SOU nos parece num primeiro momento um disco melancólico, que é um traço marcante da voz de Camelo, mas é o contrário, SOU é ensolarado e cotidiano, uma autêntica observação do acaso e do banal, embora, por vezes pareça triste e apático. Aliás, apatia é o termo que menos se aplica a Marcelo Camelo que apresenta a força e a vitalidade de um artista com muito chão e produção pela frente.

Camelo nos surpreende e se surpreende a cada novo trabalho, a cada nova empreitada e trafega com liberdade e desenvoltura entre o contemporâneo, que torna SOU universal, e a brasilidade de seu violão e arranjos que nesse disco apontam caminhos tão distintos e familiares quanto a sanfona de Diminguinhos em ‘Liberdade’ e a marchinha carnavalesca em ‘Copacabana’.

Os destaques do discos vão para ‘Janta’ com a belíssima participação de Mallu Magalhães, tão singela e suave que pede para prestarmos atenção ao que estes dois estão cantando, e as faixas ‘Saudade’ e ‘Passando’ executadas em duas versões cada, uma pelo próprio Camelo em voz e violão e outra pela pianista Clara Sverner, duas músicas contemplativas e que denotam a maestria de Camelo na composição de melodias. Outra faixa que merece ser citada é ‘Santa Chuva’, que, famosa na voz de Maria Rita, aparece nesse disco, não como um dilúvio, mas com a sensatez de uma canção para ouvir quietinho, assim como uma suave chuva que cai no telhado de madrugada.

Sem dúvida Marcelo Camelo vem se tornando um dos mais importantes e influentes compositores da atualidade e seu disco solo o apresenta completo. SOU é fundamental em nossa discografia, assim como Camelo na música brasileira, seja cantando sozinho, seja ao lado dos Los Hermanos ou na formação que sua música lhe guiar.

3 comentários:

  1. Descobri por acaso este seu canto. Fiquei muito feliz em saber que inaugurou um espaço para que as pessoas, me incluo, possam ler seus escritos com mais frequência. E maior ainda, foi o prazer de encontra uma crítica sobre o CD do Marcelo Camelo, que acho simplesmente tocante, com todos os trocadilhos possíveis. Gostei muito! Abraços!!! Renato.

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  2. Deixa a Veja ler essa habilidade toda em críticas que é contrato na certa!!! hahaha...
    Vc sabe que admiro essa enorme sensibilidade q vc tem pra descobrir tudo que é bom:
    na música,
    na dança,
    nos livros,
    nos palcos... vc é um cara além do seu tempo!
    beijosss

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  3. Pois vou querer ouvi-lo com certeza!
    Sua crítica me deu agua na boca para ouvir esse CD. E como sempre suas indicações me enriquecem e surpreendem deliciosamente, vou acatar mais essa e saborea-la. Beijinhos.

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