sexta-feira, novembro 02, 2012


Barata pode ser um barato total

"E eu gostava tanto de você..." e como gostava. Dos 8 aos 10 anos de idade eu frequentava a colônia de férias para os filhos dos funcionários da MBR (hoje Vale), que além de tudo aquilo que era muito bom em uma colônia de férias para crianças, havia um fato bem interessante que sempre me lembro: as viagens de ida e volta. A diversão começava no ônibus quando os monitores regiam velhas canções populares que eram cantadas com muita empolgação pelo pequeno coro infantil, músicas que, certamente, são bem conhecidas pelas pessoas da minha idade (32). "na boiada já fui boi / boiadeiro já fui rei" e também: "moro num país tropical / abençoado por Deus / e bonito por natureza, mas que beleza". E acabava uma e a gente logo emendava "um dia a areia branca seus pés irão tocar e vai molhar seus cabelos a água azul do mar". Todas as crianças sabiam cantar. É claro que não eram músicas para nossa idade e muitas nem eram daquela época, mas eram estas que a gente ouvia por aí, nas rádios que nossos pais escutavam e até mesmo na TV. 
Nessas viagens a gente cantava algumas letras sem ter a menor noção do que estavam falando como: "quem dera ser um peixe para sem seu límpido aquário mergulhar" ou "Eu não sou besta pra tirar onde de herói, sou vacinado eu sou Cowboy, Cowboy fora da lei", mesmo assim era bom cantar, era gostoso, sonoro, as palavras eram bonitas de serem ditas, os versos eram saborosos e essas músicas nos deixavam mais felizes, mesmo as que não entendíamos muito bem.
Eu já me interessava por outros nomes e outros sons nesse tempo, como não havia internet à disposição, só dava pra ouvir o que tocava no rádio e nessa época tocava Cazuza, Titãs, Legião e Paralamas. Eu já apurava meu gosto por letras bem compostas e assuntos que diziam respeito a mim. Gostava de saber sobre o que esses caras estavam falando e também queria falar o que eles cantavam. 
Estes nomes que citei foram ajudando a compor minha personalidade misturado a tudo que vivi, li e senti. Hoje não escrevo uma linha sem ter ouvido uma música antes. Às vezes vou de rock'n roll, às vezes vou de Diana (que adoro). Na década de 1990 eu consegui mesclar artistas de 80 e 70 ao que surgia naquele momento. Nação Zumbi, Skank e O Rappa foram fundamentais, porém a banda que mais tinha (e ainda tem) haver comigo era o Pato Fu. Tudo que eles faziam era muito doido e bem diferente das outras coisas que tocavam por aí. Era qualquer coisa alternativa-experimental-meio-eletrônica, Rotomusic de Liquidificapum me trouxe novos olhares. Talvez a responsável por esse gosto meio estranho seja a Rita Lee ou talvez o Tom Zé, não sei dizer. 
Daí por diante vi nascer muita coisa boa, artistas que até hoje ouço tranquilamente. Representantes do pop / rock / mpb / raggae / brega e tantos outros estilos. Gente que canta bem, toca bem e principalmente compõem muito bem. Letras elegantes como: "se eu fosse a sua e não mais uma / as quatro luas eu lhe daria / pra me tornar sua maria / uma canção eu cantaria / minha resposta ao que eu ouvi / a mais bela melodia / foi roubar pra minha história / sua poesia de outrora"(1). Canções divertidas e leves: "Cada andorinha é lotada de pinheiro e o joão-de-barro adora o eucalipto. A ordem das árvores não alteram o passarinho"(2) ou simplesmente músicas muito boas pra cantar: "Perdi a hora de voltar para o trabalho / Voltei pra casa e disse adeus pra tudo que eu conquistei / Mil coisas eu deixei / Só pra te falar / Largo tudo / Se a gente se casar domingo / Na praia, no sol, no mar / Ou num navio a navegar / Num avião a decolar / Indo sem data pra voltar / Toda de branco no altar"(3).
Aprendi com a Jornalista Mariana Peixoto que existe no munda música bom gosto, mau gosto e desgosto. Atualmente eu me pergunto, onde foi parar o bom gosto? Mesmo com tantas possibilidades e alternativas por que as pessoas (no geral) aboliram a boa música? Mesmo em estilos que não tenho intimidade como o axé o pagode e o funk carioca, sei que tem pessoas legais produzindo coisas legais, porém até eles perderam espaço para a maçaroca musical que impera no momento. Será o tempo da supressão da linguagem o que mais se ouve por aí são "tchus" e "tchas" e "thês" e "barás" e 'hã" e "ai ai ai" e "te pego" e "balada" (balada é a palavra do momento). Essas expressões ou onomatopeias ou seja lá o que for vêm substituir palavras que levamos tantos séculos para definir como nossa identidade. Talvez isso seja reflexo de falta de leitura, da educação precária que as pessoas estão recebendo ou porque nossos ídolos e heróis (Lê Neymar) ouvem esse tipo de som. Se fosse apenas para ser divertido estava valendo, pois não é possível ver beleza em versos como: "Se eu te pego hã" (hã?) "Nossa, nossa. Assim você me mata. Ai se eu te pego" ou "Se você me olhar vou querer te pegar e depois namorar, curtição, que hoje vai rolar o tchê", "Eu já te peguei e te fiz enlouquecer Bara bara bará bere bere bere berê" E no atual-clássico: "Cheguei na balada, doidinho pra biritar, Eu quero tchu eu quero tcha"!
Enfim, fico muito feliz em saber que tem uns caras bem novinhos por aí que tiveram referências na infância tão boas quanto às minhas e por conta disso estão produzindo coisas que valham a pena: "Olhe pra junto dos meus pés / você consegue reparar / no tempo de nós dois / E ver assim como se dança / o passo é cheio de esperança / espero amar depois"(4). Ou um jovem carioca cantando: "Fica por aqui / Vem cuidar de mim / Vamos ver um filme, ter dois filhos / Ir ao parque / Discutir caetano / Planejar bobagens / E morrer de rir / Fica bem aí / Que essa luz comprida / Ficou tão bonita / Em você daqui"(5) e mais: "Quando Maria caiu no meu coração / Não tinha espuma era de barro batido / Não tinha palha de coqueiro para amenizar o sol / Era vermelho e só vermelho o coração"(6). Por estas e outras vejo que tudo no mundo tem jeito, só não sei ainda que jeito tem, mas tem.

(1) Céu - Valsa pra Biu Roque. (2) Tulipa Ruiz - A ordem das Árvores. (3) Marcelo Jeneci - Pro sonhar (4) Silva - A Visita. (5) Cícero - Vagalumes Cegos. (6) Tibério Azul - Quando Maria me fundou o carnaval.

segunda-feira, dezembro 06, 2010

Até que o teto desabe



Apresenta


ATÉ QUE O TETO DESABE



O espetáculo ATÉ QUE O TETO DESABE estréia em Itabirito no sábado dia 11 de dezembro

com sessões ás 19:00 e 20:30 horas.

Ingressos: 12 reais inteira e 6 reais meia-entrada e antecipado.

Pontos de Vendas: Casa de Cultura e Armazém de Arte

ATÉ QUE O TETO DESABE

Dois homens, dias vidas. Um não acredita mais em si. Outro já não acredita mas nas pessoas. Até descobrirem que o que faltava em suas vidas era terem se conhecido cinco minutos mais cedo!


Até que o teto desabe, é uma comédia meio absurda meio trágica e conta a história de dois desconhecidos que se encontram num frustrado assalto a banco. Presos pelo sistema de segurança da instituição, enquanto esperam a chegada da polícia ou que o 'teto' desabe sobre suas cabeças, desfilam uma série de conflitos vazios revelando os motivos que os levaram a invadir o banco. Enquanto tecem suas razões descobrem que o que menos importava naquele assalto era o dinheiro, mas sim, o que aquele encontro poderia desencadear no resto de suas vidas.


quinta-feira, novembro 11, 2010

Sou sua


Seguro firme o volante e juro, juro por Deus Pai Todo Poderoso, que é a última vez. Paro o carro. Você entra. Boto um som que você curte. Tira essa bermuda que eu quero você sério. Ouvimos Kid Abelhe. Aumento bem o volume para evitar que toquemos em assuntos tão delicados e coloco minha mão sobre sua coxa esquerda. Você acaricia docemente meu rosto e sorri safado, eu desfaleço. Não olho pra você, não te encaro nunca. Você sabe que por dentro estou queimando. Sigo em frente. Vamos para meu endereço.

Deixo você em casa e volto para a minha após jurar ser esta a última vez. Durmo feliz com seu cheiro impregnado em meu lençol. Juro: esta é a última vez e você me liga num dia qualquer dizendo estar no bar da esquina à minha espera. Não espero. Pego o carro e sigo para onde você está. Chego, peço uma Stella Artoir e você me encoxa por debaixo da mesa. Após três, cinco, oito cervejas sua mão entra embaixo da minha saia e eu já quero arrancar toda a roupa e dar para você em cima da mesa diante de qualquer um que queira nos ver. Seguimos adiante, vamos para casa. É a última vez.

E recebo um torpedo. É você com a tarde de folga querendo me beijar AGORA! Dispenso minha equipe, recolho os papéis sobre a mesa, invento um mal-estar qualquer. Em casa, dispenso a faxineira. Passo para te pegar. Meu corpo sucumbe ao imaginar sua mão me tocando fundo nessa tarde suada de quinta-feira. Está consumado. Você me dá febre. Sou sua. Para sempre sei que é nunca mais.

Você me chama pra jantar eu não acredito. Reservo o melhor restaurante. Você fala sobre seus planos, seu passado, seu futuro, seu trabalho, sua vida, me encara nos olhos. Não ouço uma palavra. Te devoro com os olhos. Só você me sacia. Aperto seu pau sobre a calça jeans. Interrompo seu assunto. Pago a conta. Te levo para casa. No caminho você me toca. O ar me falta. Você se despe. O seu jeito de olhar safado é um crime. Juro nunca mais. Abro o ziper do meu vestido e deixo aparecer meu colo. O resto é com você. Garanto que não caio mais nessa.

Você me leva pra dançar no Nigth Club. Me preparo toda pra você. Pinto os lábios. Pinto os olhos. Prendo no cabelo uma flor de maracujá. Perfumo a nuca, os seios, a virilha. Me olho no espelho e prometo nunca mais e você me espera no lugar de sempre. Flores na mão, a barba mal feita, o sorriso que me destrói. Você me conduz em cada dança, me perco em seu compasso. Eu giro ao seu redor de olhos fechados, sentindo seu perfume viajo em você. Seu cheiro me inebria. Entreguo-me no meio da pista. Sou sua só mais esta noite. Garanto!

Acordo às três da manhã. É você à minha janela gritando ser meu Romeu. Eu, feito pobre Capuleto, abro a porta e você, cara de cachorro abandonado, chinelos nos pés, bermuda surrada, me traz à mão um Ferrero Rocher. Olho pra você, você sorri, eu me desmonto. Te convido para entrar você me agarra. Nesta manhã não vou trabalhar. Invento outra doença e fico na cama até mais tarde. Te preparo o café, o almoço, o jantar. Sei que ninguém mais me faz sentir assim, mas prometo, juro junto a imagem de São Judas Tadeu, que é a última vez.

Você me encontra ao acaso nessa tarde magenta. Meu belo horizonte é você que me sorri antes mesmo que eu possa me defender. O coração dispara. As pernas bambeiam. O olhar me denuncia. Eu que jurava não vê-lo nunca mais, não consigo fingir indiferença.


quarta-feira, outubro 13, 2010

A mulher que espera

Damiana desperta ao toque suave da mão da enfermeira em seu ombro. Assim tem sido em todos os dias nesses últimos 13 anos de sua vida. Ela se levanta e aos olhos atentos da enfermeira ajeita o lençol, sozinha, ainda é capaz desse pequeno gesto de independência. Os cobertores dobrados ela os coloca ao pé da cama, o travesseiro na cabeceira. A enfermeira abre as cortinas, as janelas e deixa o dia invadir o pequeno quarto habitado pelas oito mulheres. Damiana tira a camisola branca-puro-algodão e veste-se de verde. Essa é a cor usada para os dias de domingo, dia de receber as visitas. Acompanhada das outras mulheres, calmamente, se veste, calça sua chinela de tecido macio e vai, como num cortejo, para o refeitório. Está anciosa pela visita dessa tarde.

Pelo corredor ouve-se apenas os sons abafados dos passos em direção ao refeitório. As mulheres não conversam. Os assuntos são sempre os mesmos ali dentro, então não vale à pena repetí-los. Damiana prefere assim. Não conversa, não olha para as outras. Seus pensamentos fixos a levam às visitas de logo mais, depois do café-da-manhã, quando seu rosto petrificado se abrirá num grande sorriso de boas-vindas. Virão as amigas do tempo do colegial que sempre lhe trazem tardes tão agradáveis e tão belas recordações. Ou os filhos com seus filhos que lhe trazem tantas alegrias. O esposo, os pais, avós, os amigos daqueles tempos tão remotos que, ainda menina, permitia que corresse de pés-no-chão ou subisse em árvores-tão-altas. São tardes memoráveis e Damiana não quer dividir com as outras mulheres ali sentadas à sua volta na mesa tão dispersas.

Ainda em jejum ingere o primeiro comprimido do dia. Se habituou a tomá-los pelos horários fixos. Antes do café da manhã tomava o que deixará desperta. Tomado o remédio Damiana come calmamente seis ou sete biscoitos de maisena, uma caneca generosa de café-com-leite-bem-quentinho adoçado com rapadura, como imagina, e uma maçã descascada. É assim que começa feliz seu dia de domingo com tanta alegria vindoura. Começa pela frugalidade da primeira refeição. Ela sabe esperar. Depois de comer se encaminha rapidamente para seu quarto, um quarto que não é só seu, é de tantas outras como ela que não se explica bem os motivos de estarem ali.

Sentada em sua escrivaninha, de frente ao espelho, onde acredita se vê, toma o segundo comprimido para controlar a ansiedade enquanto se enfeita. Solta os cabelos e pentea-os delicadamente, seus cabelos são longos e sem vida. Ajeita-os como se nada pudesse estar fora do seu devido lugar. A enfermeira ajuda a prendê-los no alto da cabeça com uma fita de cetim verde, um verde próximo à cor do vestido. Calmamente passa o blush para aquecer as maçãs do rosto, a sombra clara nos olhos abstratos, o batom para colorir o lábios tão pálidos. Pinta-se discretamente para as visitas. Após as cores em seu rosto toma o remédio que a ajudará em sua espera.

Já é possível ouvir as vozes das visitas chegando. Acredita ser domingo. Não tarda e estarão todas lá fora à sua espera. Olhou mais uma vez no espelho. Os olhos cansados, a pele enrugada, o cinza-branco dos cabelos não a incomodavam. Se enfeitava por não ter nada de seu para um agrado às visitas. Sentia-se bonita com as cores que cobriam a pele de seu rosto e seus cabelos.

Damiana já ouve os passos das visitas. Precisa se apressar. Ela abandona o quarto e segue para a varanda. Não frequenta as aulas de pintura, nem as aulas de modelar. Aos domingos ela se senta na varanda para esperar tão doce companhia. Atravessa os corredores ávida e com os olhos vívidos. Não repara nas outras mulheres. Estas observam-na desesperançosas. Damiana escapa da enfermeira, mas esta sabe de sua alegria em esperar. Ela se senta na cadeira da varanda. Só ela tem permissão de sentar-se ali aos domingos, como ela acredita. Pousa sobre as pernas as mãos nervosas e ali fica até que o portão se abra.

Ela se senta na cadeira da varanda e espera que o portão se abra e as visitas entrem. Espera ver os filhos, as amigas, toda a família reunida como nas festas natalinas ou nos casamentos. Por vezes visita o jardim e apanha algumas flores. Gosta de azaleias brancas. Colhe algumas e espera que todos cheguem com novidades. Relatando grandes acontecimentos. Contando histórias que a deixarão feliz até o próximo domingo. Ela espera. Ela sabe que domingo é dia de visitas. Ela sabe que eles chegarão. Ela sabe. Só não sabe que hoje é terça-feira. Este detalhe a enfermeira não disse e os remédios certificam sua crença. Em sua doce loucura todos os dias são domingos. Todo dia é dia de espera. Mesmo para as visitas que nunca chegam.



terça-feira, setembro 21, 2010

A vontade que ele tem de permanecer triste

Observava pela janela o ar parado nas mediações. Esperava que Stella voltasse com o vento. Tão só nessa janela que serve apenas pra mostrar que há mais céu que sua vontade imensa de permanecer triste.

Era final de uma estação e início de outra. Suavemente o vento preenchia a paisagem com seu pas-de-deux com o abacateiro. Observou atento uma folha se soltar deste. Tac. Debrussou-se sobre a janela na esperança de vê-la tocar o chão. A folha descia cambaleante arrastada pelo vento num bailado que só a fugacidade de folhas que se soltam no outono são capazes de dançar. A folha do abacateiro tocou o chão. O vento ainda teimava em conduzi-la, arrastando-a por mais alguns pedaços de quintal sobre a grama e os ramos de saudades, parou quando tocou a amoreira. Ele observava. Era a primeira folha a cair da nova estação que acabara de chegar trazida pelo vento.

É dado que não se pode ignorar. Esperava que no dia 20 de março, como marcam os calendários, às 14 horas e 33 minutos, chegasse o outono. Oficialmente. Mas faltavam alguns dias. Porém, ele percebeu claramente que o vento inda agora trouxera a estação consigo. Moveu todo um tempo, como se o universo inteiro fosse deslocado. Antecipadamente. Ouviu dizer que o mundo está em descompasso. Talvez isso explique, mas tem acompanhado os noticiários da televisão, só que deste fato ainda não deram conta.

Por acaso levantou-se e foi à janela nesta tarde temporã. Não fazia esse movimento a algum tempo. Ir à janela. Na verdade só foi abri-la, pois o cheiro fechado do quarto misturado às guimbas de cigarro, bebida destilada e do seu corpo sem banho há semanas estava lhe dando náuseas. Levantava-se apenas para as necessidades básicas. Ir ao banheiro. Ir à cozinha buscar pacotes de bolacha Maria ou pegar outra garrafa de vodka.

Bolachas Maria, vodka barata, a vontade que ele tem de permanecer triste e a imagem de Stella sendo trazida pelo vento.

Ele tem se dedicado a assitir TV. Os programas matinais de culinária e assuntos variados. Os jornais de meio-dia que repetem as notícias que foram dadas pela manhã. Os programas vespertinos, as novelas, os filmes, jornais em todos os formatos e à noite dorme com a TV ligada sem saber ao certo o que acontece na madrugada. Tem se informado de todas as formas e todos os meios. Sabe dizer tudo sobre o que anda acontecendo pelo mundo. Tragédias, crimes, mudanças bruscas no clima, embora nenhum canal tenha anunciado a antecipação do outono.

Tem consigo a impressão que isso seja reflexo do terremoto do Chile. Crê. Parece que o abalo foi tão forte que deslocou o eixo da Terra. Talvez os cientistas não tenham percebido este detalhe. Ou, por interferência da NASA, essa informação não fora divulgada para não causar alarde. Agora com o verão menor o que seria das outras estações? O inverno será maior ou os dias serão todos menores? A dúvida o cerceava e ele sabia que era detentor de uma informação preciosa. Pôde ver a primeira folha outonal cair bem diante dos teus olhos. Porém, a vontade que tem de permanecer triste não o deixava fazer nada além de ir à cozinha pegar outra garrafa de vodka e se deitar na esperança que Stella volte trazida pela estação que nascia prematura.

quarta-feira, setembro 01, 2010

Somente para quem gosta fofocas

Sempre que a palavra fofoca aparece em inúmeras capas de revista cor de rosa ou em sites eblogs, você pode ter certeza, este 'notícia' venderá mais que água no deserto.


Não é novidade nenhuma que a fofoca move o mundo. Isso desde tempos remotos. Temos um apreço incrível em saber da vida alheia. E gostamos dos detalhes sórdidos e das partes que ninguém quer contar, mas tem sempre um desavisado (maledicente) que espalha notícias nada agradáveis.


Hoje me ocorreu isso, pois tirei um tempo para visitar os blogs de uns amigos escritores. Estes também falam da vida alhei, porém com um pouco mais de discrição. E na maioria das vezes inventa o personagem central da fofoca, para não parecer(mos) tão grosseiros. Mas voltando aos blogs, percebi que o número de visitantes destas páginas só tem diminuído, e por outro lado, blogs que falam da vida de um gente sem graça estão 'bombando' cada vez mais.


Ok! Eu sei que não há novidade nenhuma nisso. Na verdade nem era minha intenção alertar sobre um assunto tão batido.


Mas pense comigo, todos os dias quando abrimos nossa caixa de e-mail, seja no yahoo, gmail, hotmail e quaisquer outros, aparecem dezenas de notícias fresquinhas para aquele dia. Geralmente uma matéria que fala de saúde, outra da guerranno oriente médio, alguma grande tragédia internacional e por fim fofocas do tipo:

  • Ator (não citarei nomes) passeia na praia com o filho.

  • Jogador (qualquer) se diverte na balada com loira.

  • A atriz (fulana) diz que não sabe se passará a lua de mel em Paris ou Milão.


São assuntos que não interessam a ninguém (bom, eu não me interesso), no entanto, bombam na internet. O acesso fácil permite isso, mas blogs literários, contos, crônicas e críticas, notícias sobre (boa) música ou política, são pouco frequentados. Por outro lado, cada um tem que vender seu peixe e as revistas de fofoca fazem isso muito bem. Isso me leva a pensar se não é o caso de nós, (outros) blogueiros, que queremos apenas expor nossos trabalhos e pontos de vistas não temos que pensar em outras estratégias. Imagina quantas pessoas leriam Romeu e Julieta se a peça fosse vendida assim:

    • Filha dos Capuleto é flagrada aos beijos com o herdeiro dos Montecchios.


Certamente muitas pessoas se interessariam. Afinal a fofoca parece ser inerente ao ser humano, então vamos usá-la a nosso favor.


domingo, agosto 29, 2010

Lady Gaga, Ex-bbb e mais alguma coisa que não me lembro


O que não dizer sobre as coisas que eu não sei? Talvez em outros tempos me sentisse incomodado, porém hoje me sinto aliviado. Faço força para por em dia todas as minhas desatualidades. Me esmero em poder dizer só o que sei e prestar atenção naquilo que desconheço. Hoje fui pego de surpresa sobre o comentário sobre um programa de televisão. Bom, já ouvi falar do programa, mas não sei o que acontece nele. Quer dizer, sei o que acontece, mas não sei dizer o que é. O que sei é que tem haver com uma ex-bbb, a Lady Gaga e mais alguma coisa que não me lembro.

Quando disse que não sabia do que se tratava. Me olharam com cara de poucos amigos. Por um segundo me senti um marciano. Não sei qual cara tem a Lady Gaga, é sério. Sou forçado, como todo mundo, a conhecer suas músicas, mas não sei que cara tem. Por conta disso percebi que não sei quem é a Byonce, a Rihana e algumas outras cantoras americanas que tocam nas rádios e na tv. E também não sei dizer qual canta que música, pra mim todas parecem uma só.


Até as mais antigas já me confundem. certa vez me mostraram uma foto da Britney Spears e quando perguntei quem era me questionaram com letras maiúsculas: COMO ASSIM, VOCÊ NÃO CONHECE? Eu a conhecia antes dos escândalos na época que eu assistia MTV na esperança de ver algum clipe do Pato Fu ou do Arnaldo Antunes.

Está tudo tão pasteurizado que não sei mais identificar o que anda acontecendo. Não tenho mais ligado a TV, nem para assistir o jornal. E não é por nenhum ideal, é falta de tempo mesmo. O trabalho tem ocupado muito do meu tempo (o que é bom também). A internet me da o direito de escolha, só vejo e ouço o que quero, e como o tempo está escasso tenho sido muito seletivo. Os artistas que ouço ou os filmes que vejo não aparecem na TV. E quando me satisfaço com a Internet vou ler um bom livro. No momento estou lendo Dois Irmãosdo Milton Hatoun, recomendo.


Mas voltando à TV e às cantoras americas. Me sinto aliviado de não saber quem é quem, não dá pra deixar de ouvir, mas não identifico as vozes. Sei que existem diferenças entre elas, mas não me furto ao direito de não saber. Tenho as cantoras que gosto, dezenas de brasileiras e muitas cantoras de muitos países diferentes que representam muito minhas escolhas estéticas. Ouçam Raquel Coutinho, vale muito à pena.


Realmente, daria pra eu me sentir de outro planeta. Nesse programa uma mulher dava suas opiniões sobre uma festa em Pernambuco, ela falava como se realmente entendesse do assunto, mas era tão tosca, quando perguntei quem era a sujeita me falaram que era uma tal ex-bbb. - Por favor! Não me obriguem a isso.


O resultado dessas minhas desvalias é que me mostraram alguns clipes da Lady Gaga. – nada que a Madona nunca tenha feito. Disse eu com ar cético. Então desistiram de mim. Tentei, num último lance dizer que gosto da Katy Perry. Fizeram cara de QUEM É ESSA MULHER, mostrei alguns videos na esperança de ser compreendido e poder também compartilhar meus gostos musicais, todos conheciam as músicas só que remixadas (o que é uma pena), mas foi bom, pois descobri que comecei ouvir Katy Perry por causa do Ivri Lider, um cantor israelense, que regravou uma música dela e que (diga-se de passagem) ficou muito boa.


E assim vou vivendo como marciano no mundo pré-pós-tudo-bossa-band sem culpa nenhuma. Pr'estes dias fui comprar um tênis e a vendedora queria me vender um que realmente parecia muito confortável, estava decidido a comprar quando ela disse que era uma marca anunciada no Domingão do Faustão. Ela ficou espantadíssa quando eu disse que nunca tinha visto: NÃO É POSSÍVEL QUE VOCÊ NÃO ASSISTA AO FAUSTÃO. O QUE VOCÊ FAZ AOS DOMINGOS?


– Visito meus parentes em Marte.


E o tênis eu não levei.


segunda-feira, julho 05, 2010

Escrito em seus olhos negros

Se amor fosse o que dizem os poetas, talvez seríamos menos complicados.

– Às vezes penso porque me comportei dessa maneira ou daquela. É estranho, pois não tenho que pensar por quais motivos agi. Apenas agi. Como qualquer um que vive e age não pensando, só agindo. Ninguém pensa no vento depois que ele venta e arrasta o que encontra pela frente. Ninguém pergunta porque ventou ou porque venta. Nem o vento pensa nisso. Ventar é ventar.

Acordou.

Hoje abriu os olhos e se viu no espelho quando levantou. Se levantou da cama e olhou fundo em seus olhos negros. Viu o que era, dentro do que sempre acreditou ser, e era apenas o que aparentava ser. Se viu pela primeira vez. Desnudado. Era fantasia. O que viveu, criou e imaginou era apenas fantasia. Se escondia dentro do peito. Um peito carregado e pronto para explodir de tanta gente errada que já carregou. Só que agora não dá mais para fugir.

– Você não cabe mais aí dentro, seu merda! Saia!

– Minha alegria ficou presa a isso, pois, como homem, aprendi a pensar, e pensar atrapalha quando se quer agir, então, sofro enquanto penso no que deveria fazer e não faço sem pensar o que tenho que fazer sem pensar. Como ouvir música, por exemplo. Se ouço pensando, não ouço, Mas se penso em ouvir, ouço a música inteira. Depois penso nela e escrevo sobre ela, porque escrever agora não é mais uma opção é um vício assim como fumar e fazer sexo. Tento não escrever sobre o que está acontecendo, e o que não está acontecendo, porque se eu me preocupasse com o porquê de estar acontecendo, eu não seria um poeta, seria outra coisa e essa outra coisa não me agrada.

Como imaginou terá que se refugiar em outro lugar. Um pouco mais distante de seus belos olhos negros. Existe algo que o incomoda profundamente.

Não quer mais estar apaixonado.

– Tente se olhar no espelho a sua frente. Tente se ver escondido aí dentro, tente se ver de verdade e pare de se esconder. Agora não dá mais. Você pensou que seria fácil e até acreditou que depois voltaria e ficaria tudo bem. Seu coração não o deixará descançar. O corpo. A cabeça. Os pensamentos não descansarão. Quando saiu, trancou por fora o peito, mas terá que voltar. Não foi desta vez, nem será noutra. Você terá que voltar e encarar todos os fatos, os medos, as fotos emolduradas nas paredes, os momentos desfeitos e tudo de errado que parece ter feito.

– Os homens erram por pensar. Pensar no que não deve e por acharem complicado o que não entendem e não se submetem, e nisso vão errando. Um erro atrás do outro. Se agissem como o sol seriam mais felizes. Nasceriam e morreriam. Nesse intervalo realizariam coisas importantes, como iluminar o dia de alguém, e não pensariam em outra coisa.

Ele não errou sozinho.

– Você não errou sozinho! Sei que não fez por mal. Os homens erram por acreditarem que não erram nunca. E por se acharem melhores que o sol a lua as estrelas. Verme! Este é o pior erro. Mesmo assim, você é um homem. Devo considerar, confesso. Pode errar, desde que se arrependa e tente outra vez. Assim talvez você se torne um homem um pouco melhor. Melhor que aqueles que não acreditam em estrelas.

Reparou em seus olhos negros. Eles são tristes. Tristes como ontem à noite quando voltava para casa sozinho. Só como em todas às vezes que teve que voltar para casa.

– O pôr do sol nem sempre é belo, porque se estou triste ele é triste e me faz chorar. E quando estou alegre apenas o sinto, como quem sente de uma flor, o perfume trazido pelo vento.

– Não te deram abrigo, não te deram colo.

Nenhum afago em todas as noites em que esteve só. Só como o sol. Só como a lua. Só como um cometa que vaga impetuosamente sem um destino que lhe queira. Por caminhos que levam a parte alguma.

Ajeitou os óculos.

Suas lentes não disfarçam a estranha tristeza que o impede de se ver como deveria. Suas lágrimas ficaram escondidas atrás de pensamentos distraídos que teimam em aparecer e persegui-lo. Seus olhos não contam mais suas histórias. Não decide sobre que caminho seguir. Nem quer abrir os olhos. Há mil enleios por perto e dentro dele, e indefinidamente como se fosse inverno se cobre e se aquece e se esquece. Enlouquece! Viver, senão amar. Fechar os olhos e se entregar. Campos de muitas flores. Paixões demasiado abstratas. Motivos que povoam este mundo domado por incertezas.

Apesar de tudo eu penso para escrever, mas eu não penso na caneta que uso, nem no papel que escrevo. Abro a mente e deixo o pensamento sair como uma cachoeira que cai impetuosamente morro abaixo sem se preocupar com o que está lá embaixo. Mesmo porque se preocupasse, não cairia, teria medo.

– Acorde! você precisa acordar. Saia deste mundo indolente de lágrimas, poesias e sonhos. Diga a verdade a si mesmo, sem medo, sem receio. Mas antes de gritar suas palavras fuja daqui, corra o mais rápido. Impassível. Impertubável. Corra! Pois a verdade vai te machucar.

A verdade é o que está escrito em seus olhos negros e aflitos.

– Quando penso em tudo isto, fico um pouco triste. E ninguém pensa assim. As pessoas pensam em outras coisas. Talvez se pensássemos iguais, seríamos uma floresta. Seria bom. E se pensar demais nisto tudo, pode acontecer de ficarmos muito tempo pensando no que não tem importância e perderíamos tempo com bobagens, como em milhões de palavras que não são nada e não dizem nada, mas tento usá-las para dizer que sempre te amarei, embora, não te queira mais.


terça-feira, junho 29, 2010

Laura e a incrível história da porca que tinha ataques de vontade



03 e 04 de julho na Casa de Cultura Maestro Dungas

Quarto espetáculo da Cia. Teatral Dona Maria do Fulô, Laura e a incrível história da porca que

tinha ataques de vontade vem comemorar os 2 anos de existência do grupo e reafirmar o êxito nas escolhas de

seus membros que empenhados vem construindo uma companhia forte e próspera contando a história de

Tenório um homem símples e trabalhador, mas que já vivia sozinho há muito tempo, não tivera a sorte do

casamento. Tentara algumas vezes, mas foi em vão. Conformado resolveu comprar uma porca, seria seu bicho

de carinho, cuidaria dela e então só mais tarde a mataria e venderia as partes. Mas diz que Tenório resolveu

assim um desejo seu... estava, ele, no fim do fim, à beira do início de sua terra e de outra que não era dele. Vinha

caminhando devagar quando viu Laura pela primeira vez. Abaixada, resolvendo-se entre as bananeiras. Assim

nasceu em Tenório um desejo danado por Laura, desde que a descobriu acocorada entre as suas bananeiras. A

partir deste dia Tenório freqüentou mais a cidade com o firme propósito de conseguir Laura, nem que para isso

ele tenha que abrir mão da porca. Porque desejo é coisa que ocorre sem explicação, só tem rumo. Nasce

pronto.

Concepção

(Direção | Dramaturgia | Produção | Cenário | Figurino | Iluminação | Adereços | Maquiagem)

Carlos Renatto

Preparação Musical

Idelino Junior

Elenco

Bruna Alves / Bruna Fontes / Dayane Nascimento

Davi Ávebra / Flávia Mol / Gabriel Araújo

Hudson Muniz / Isabela Fagundes / Larissa Baêta

Patrícia Santos / Pedro Vilaça / Roseanne Silveira

Músicas Incidentais

Xique-xique: Tom Zé

Ta caindo Fulô: Domínio Público

Lamento da Lavadeira: Monsueto

Nova Ilusão: Claudionor Cruz / Pedro Caetano

Maria é Pedra: Domínio Público

Pão e vinho para ti Senhor: Religiosa

Te amarei Senhor: Religiosa

Seu Marido é ruim: Domínio Público

quarta-feira, junho 23, 2010

PROGRAMAÇÃO DA TEMPORADA DAS MAIS VOTADAS



Quinta a sábado, 21h | Domingo, 19h

Ingressos: R$20 (inteira) | R$10 (meia e Passaporte Cultural)

PROGRAMAÇÃO DAS CENAS:

Pronto para mudar | São Paulo/SP

Criação, concepção e atuação: Michelle Gonçalves, Mimi Bonnenfant e Priscila Jácomo
Direção: Janaína Leite e Juliana Sanches
Dramaturgia, direção de arte e iluminação: Criação coletiva
Figurino e Consultoria Cenográfica: Rodrigo Vieira
Operação de Som e Luz: Janaína Leite e Juliana Sanches.
Crédito fotografias: Mimi Bonnenfant
Sinopse: Oportunidade!!!! Ap. Mobiliado c/ varanda e elevador. Rua Suipacha. Ótima localização. Obs: Proprietário organizado. Tudo exatamente como antes do acontecido. Uma ordem fechada. Pronto para mudar.

Flicts | Belo Horizonte/MG
Atuação: Mariana Jacques
Direção: Mariana Jacques
Consultoria de encenação: Julio Adrião
Assistente de direção: Cláudio Marcio.
Texto: Ziraldo
Cenografia: Mariana Jacques e Cláudio Marcio.
Figurino: Mariana Jacques
Sinopse: O mundo é feito de cores, mas nenhuma é Flicts: uma cor diferente que procura um cantinho para colorir, um suporte para espalhar seu tom ainda que seja bem distante das cores conhecidas; mas não mais belas do que ele.

Suave [in] Pura Brancura | Contagem/MG
Direção: Rafael Lucas
Assistente de direção: Felipe Marcondes
Sonoplastia: Diogo Horta
Figurino e cenografia: Natália Moreira
Dramaturgia: Rafael Lucas e coletivo
Elenco: Ana Reis, Bruna Betito, Carolina França, Idylla Silmarovi, Júlia Camargos
Realização: Coletivo [entre] Teatro Dança
Sinopse: "A sensação dolorosa indica que algo não vai bem... "O jogo passa pelos extremos do corpo, desenvolvidos em partituras individuais e coletivas das atrizes, que perpassam do carinho à dor, da sensualidade à violência, do gozo à perda.

RG 38 e mais Nada | Belo Horizonte/MG
Cia. Teatral As Medéias
Direção e texto: Adélia Carvalho
Atuação: Carlos Renatto, Davi Procópio, Henrique Cruz, João Filho, Ricardo Carvalho
Criação e execução de trilha sonora ao vivo: Kelly Ellaine
Cenário e figurino: Walter Martins
Iluminação: Mauro Júnior
Fotos: Naty Tôrres
Produção: Ana Jardim
Sinopse: Cinco homens em um ou um homem em cinco? Dois caminhos conduzindo ao mesmo lugar: o da impossibilidade de realização dos verdadeiros desejos quando se está impregnado das regras que a sociedade impõe.

SOMENTE 5ª E 6ª FEIRA:

Duas Palhaças e Um Pequeno Príncipe | Rio de Janeiro/RJ
Roteiro: Karla Concá e Vera Ribeiro /As Marias da Graça (a partir da obra de Saint-Exupery)
Atrizes/palhaças: Karla Concá/ Indiana da Silva, Vera Ribeiro / Shoyu
Supervisão Geral: Kiko Mascarenhas
Figurino: Helena Campos e As Marias da Graça
Sinopse: Um príncipe pequeno, duas palhaças... A amizade... Em um momento uma manda e a outra obedece. Em outro, a que manda, amolece... Procuram entender o que os cabelos loiros de um Príncipe têm a ver com os trigos de ouro... E elas entendem.

SOMENTE SÁBADO E DOMINGO:

1999=10 | Belo Horizonte/MG
Concepção / Direção: Dudude Herrmann
Atores intérpretes personagens encapados: Beatriz França, José Washington Vidigal, Miller Machado, Patrícia Siqueira e Vinicius Reinaldi
Trilha sonora: Ruído sonoro
Esboço de luz: A Direção
Esboço de cena e Figurino: O Grupo
Crédito Fotos: Álvaro Starling
Produção: O Grupo
Sinopse: 1999=10 aborda a superfície daquilo que afeta e infecta o mundo das aparências. Seus ocupantes se assemelham a “palhaços”, que representam uma parcela ativa da contemporaneidade. Somos abduzidos ao vazio a gargalharmos da nossa condição atual.

quarta-feira, junho 16, 2010

RG 38 mais nada - Convite

Foto: Naty Tôrres


Caros amigos,

A Cia. Teatral As Medeias participará neste fim de semana do 11º Festival de Cenas Curtas do Galpão Cine Horto. Nossa Participação será no sábado às 21h, sendo que a nossa cena será a 3ª da noite. Os ingressos serão vendidos no local (Rua Pitangui, 3.643 - Horto. Belo Horizonte) a 20$ e 10$ (meia). No sábado é bom chegar um pouco mais cedo, pois é um dia bem concorrido.

Bom é isso! Espero muito que apareçam...

Beijos e Abraços!

RG 38 e mais Nada | Belo Horizonte/MG
Direção e texto: Adélia Carvalho

Sinopse: Cinco homens em um ou um homem em cinco? Dois caminhos conduzindo ao mesmo lugar: o da impossibilidade de realização dos verdadeiros desejos quando se está impregnado das regras que a sociedade impõe.

Com: Carlos Renatto; Davi Procópio; Henrique Cruz; João Filho e Ricardo Carvalho

Cenário e figurino: Walter Martins
Criação e execução de trilha sonora ao vivo: Kelly Ellaine e Edna Martins
Iluminação: Mauro Jr.
Produção: Ana Jardim


segunda-feira, maio 31, 2010

Crônica-de-uma-separação



Amor é quando paramos para prestar atenção nessas canções que tocam tão docemente nas novelas, quando o mocinho sai batendo a porta e ela, a mocinha, quebra uma jarra com flores, se encosta na parede e chora copiosamente, e não estou falando em bossa nova ou samba-canção, falo de dor de cotovelo mesmo. Joana, Fagner, Joyce. Amor é dessas canções que deveriam vir acompanhadas de uma corda de forca ou uma lâmina-para-cortar-os-pulsos. Pronto, o amor estaria resolvido.
Seria tão mais fácil.
A gente vai encaixotando todas as coisas que foram quebradas – jarras, vidraças, móveis e pensando em para onde ir, o que fazer e se será possível recomeçar. Neste caso é pegar aquilo que restou. Nenhum Neruda, nem a imagem de um santo devoto, nenhuma reprodução de Dalí para disputar. Enquanto recolhia os cacos dos meus últimos 20 anos, pensava-no-que-me-sobraria.
De Roberto não restou nem o álbum de 72.
Se não há amor, por que o choro? Ela está no quarto destruindo o pouco do que guarda nossos cheiros misturados. Lençóis, roupas, espelhos, frascos de perfumes vulgares, as minhas gravatas e seus sapatos mais caros. Por que evitar o olhar, um abraço de adeus? Por que o adeus? Ela veio falar comigo. Eu olhava distraído os pedaços de fotos, os cacos dos discos, todos os fragmentos de um passado recente. Lacônica ela me observa. Olhos ainda vermelhos, cabelos caídos sobre os ombros, roupas amarrotadas. Descalça recostada entre o corredor e a sala de estar. Eu distraído, ignorava-a olhando os restos, feito um quebra-cabeça-de-muitas-peças-pronto-a-ser-montado.
Não por um, mas por dois.
A viagem à Ilhabela, a pior de nossas vidas, mesmo assim, a única que não esquecíamos nunca. Muita chuva, o congestionamento na balsa, os dois resfriados. O show da Gal Costa, nossa primeira briga por ciúmes e também nossa noite mais intensa sob um céu de infinitas estrelas. Ela veio, juntando-partes-que-eu-não-havia-encontrado entre o que sobrou da televisão e os retalhos das cortinas e sofá, talvez estes pedaços não me fossem tão importantes naquele momento. Quando as imagens surgiam e ressurgiam, nossas faces duras tornavam-se de uma leveza tão delicada que qualquer um poderia jurar que estávamos a sorrir. E as partes das histórias iam se juntando. Fotografias, fragmentos dos discos do Fracis Hime, peças desencontradas de porta-retratos, lembranças das Cataratas do Iguaçu, páginas dos livros de Borges, Lispector, Sabino, revistas de decoração misturadas a tudo-que-foi-quebrado-na-última-briga.
Ela, como qualquer mulher, não dá margens para pensarmos que estamos chegando ao fim. Nós, os homens negamos que percebemos. Precisamos que elas nos digam que já é era hora da partida. De se mudar para o sofá. Voltar para a casa dos pais. Alugar um quarto no centro da cidade, perto do trabalho, em cima de um boteco frequentado por putas.
Mas conosco foi diferente. Juntávamos pedaços desencontrados de nossa própria história e tentávamos reconstruir com outras partes de outros momentos. A viagem a Coromandel, com pedaços da Ilha Porchat, o casamento da Anabele, do qual fomos padrinhos e um cartão postal que nos enviamos de Buenos Aires. Essas histórias pareciam fazer sentido agora que não havia mais sentido algum e aos poucos ríamos. Ríamos como os adolescentes que fomos quando nos conhecemos. Fazíamos pilhéria com nossos próprios restos. Ríamos da nossa meninice, da brincadeira tola que virou nosso-passado-remendado-diante-de-nós.
Um casal quando ri junto ainda tem muita vida pela frente.
Preferimos manter o trato. Juntamos todos os cacos, todos os restos. Encaixotamos e levamos para fora. O lixo será recolhido em pouco tempo. Saímos de casa sem bagagens, sem detalhes, sem nada que nos-mantivesse-preso-um-ao-outro, tudo o mais que resta será diluído lentamente pelo tempo. Por outras histórias. Novos amores. Ela partiu, linda como uma canção do Chico Buarque. Eu parti, assoviando as notas dessa melodia.


sexta-feira, maio 14, 2010

Qualquer Palavra

Aninhou-se em meu colo quando disse que não queria me ver partir. Aconchegou-se entre meus braços e antes de um profundo abraço beijou-me demoradamente os lábios que não puderam dizer qualquer palavra. Beijou e se apertou contra meu peito num triste silêncio juvenil. Adormeceu. Como quando criança e ansiava os dias de festa na esperança de um presente qualquer. Como quando não tinha medos e o futuro era bonito como as tardes de outono onde, com outros meninos, corria pelas ruas em suas brincadeiras estouvadas. Como no tempo em que havia segurança em um simples abraço de boa noite e o futuro não passava de uma data festiva.

Era seu jeito de dizer que me amava. Apertado entre meus braços, feito criança, com os olhos fortemente fechados. Assim atravessamos a noite. Ele aninhado em meu colo, eu em vigília do seu sono.

Como flor que desperta ao sutil toque do orvalho e exala seu perfume por toda manhã ele acorda. Tão docemente abre os olhos como se estivesse submerso em sonhos que eu não seria capaz de desvendar. Eu o vejo sorrir sem entender muito bem se está acordado ou se ainda dorme. Gosto quando ele sorri ao me ver ao seu lado ao acordar. Assim queremos para sempre. Nas manhãs de outono, nos dias quentes de verão, quando chove ou é feriado e podemos ficar mais tempo na cama nos olhando sem a pressa dos dias banais.

– Eu te desvendaria. Mas, às vezes, temos que partir. Só não vou tão longe aonde eu não possa alcançá-lo. Trocarei algumas respotas, usarei outros sotaques, mudarei seu nome para ninguém perceber. Outros olhos não nos verão

Quando criança desconhecia esse encantamento, não sabia dos presentes trazidos pela vida, assim tão de repente, em dias que não são de festa. Presentes trazidos pelo vento, pelos meus desejos, pelas páginas da internet. Creio que só erramos de endereço, pois não estamos tão perto quanto pretendíamos, mas me encontro em pleno gozo pela sua existência. O que me faz esperar quando não o encontro ao meu lado. Pelas tardes desse outono que atravessa as roupas que cobrem meu corpo, pelas noites frias que se seguirão no inverno, pelo tempo em que florescem todas as flores que se parecem com você. Te esperarei pacientemente como quem espera chegar o trem.

Pelas manhãs que se seguem não me cançarei de olhar seu rosto tranquilo enquanto dormes tão docemente feito criança em sono absoluto. Resoluto. Como as crianças que fomos um dia e nossos corações não ditavam as regras. Ficarei olhando-o dormir até o momento de despertares, então poderes me ver deitado ao seu lado. Absorto. E depois de desperto, ele então sentirá o cheiro do café posto à mesa, das flores espalhadas pela casa, pequenas cortinas em renda em janelas tão transparentes e a triste notícia de que terei que partir em instantes.

Seu cheiro de flor-de-manhazinha. Seus olhos abertos. Os cabelos em desalinho. O sorriso infantil. Me arrebatam estes detalhes. Eu que não sou bom com as palavras, me esforço para não sair do assunto. Ainda não aprendi usar palavras como adeus a quem não sei se sei mais viver sem. Não saberia dizê-lo. Não vou dizer. Me afasto. Entro em meu carro. Bato a porta, dou partida, ligo o som. Os três acordes de uma velha canção abafa qualquer palavra de despedida que ele possa me dizer. O carro me leva pelo caminho mais longo. Atravesso as ruas dessa cidade que pouco conheço. Atravesso o tempo em que ele sonhava comigo sem mesmo saber que eu existia, enquanto, desesperadamente, eu o procurava pelos lugares onde seu rosto não se encontrava.

Ainda caberá ao nosso amor a eternidade. Parto, mas voltarei por todas as noites em que estávamos afastados, por todas as montanhas que separam sua casa da minha, pelas estradas que preciso atravessar. Caberá a cada um de nós o que foi prometido e o mundo então, será nosso. Pois somos maior que o mundo inteiro.

– Meu amor, se alguma coisa me escapou, esqueça qualquer palavra que olvidei. Me espere, pois eu volto antes do jantar.

sábado, abril 10, 2010

Ao seu lado

Abri uma garrafa de Dom José Ruby da Real Companhia Velha, um excelente exemplar de Vinho do Porto, excelente companhia para noites em que a solidão bate à porta e distraídos a deixamos entrar e se acomodar na velha poltrona de leitura.

Gosto quando ela está sentada diante de mim quando estou só reconheço se por momentos me esqueço que existo entre outros que são como eu sós, salvo que estão alheados desde o começo me encarando com seus olhos melancólicos. Ela é boa companhia, não sorri, não questiona, não bebe meu vinho. Pega uma antiga edição portuguesa de um poeta que gosto e lê as linhas que lhe são familiares por falar com intimidade de um assunto que conhece tão bem. Distraio-me olhando-a de frente. Enquanto lê, timidamente, uma passagem. Ela lê, levanta o olhar sobre o livro e encara-me como se fosse dizer qualquer tolice. Mas, calmamente, fecha o livro sobre o seu peito e se sinto quanto estou verdadeiramente só, sinto-me livre mas triste. Vou livre para onde vou, mas onde vou nada existe respira fundo e olha fundo nos meus olhos cor de noite.

Tem sido assim todas as noites desde que Marina foi embora. Marina, se ela soubesse! Se tivesse sede ou fome eu teria como que saciar-lhe. Se lhe apetecesse embriagar eu seria seu vinho e então, ela se lembraria de mim como nas manhãs em que o sol acorda junto ao galo que teima em cantar tão cedo. Eu seria a chuva caindo em sua vidraça. Seria sua lembrança mais doce, também a mais constante, seria seu céu por que eu a amo. No entanto, Marina partiu e me deixou a certeza de não mais voltar.

Dessa vez é certo que Marina não volta. Creio. Quando saiu senti o peso do adeus ao bater a porta. Desde então só restou o silêncio. Estive presente quando estava feliz, estive presente quando esteve triste e não pude conter seu ímpeto em me deixar sozinho. Ainda sinto seu cheiro pelos cantos dessa casa, pelos corredores, quartos e nos objetos empoeirados sobre móveis antigos. Nas poucas roupas que ainda restam, no perfume que se dilui lentamente entre os livros que não levou. Sinto falta de seu cheiro-de-flor-de-manhãzinha.

Não necessito desses tons azuis pregados nos azulejos mais altos.

Preciso apenas me embriagar.

A solidão me encara em meus devaneios e, por vezes, me encanta com a melancolia impressa em seus olhos. Em sua pele cinza, nos tons pretos tigidos nos detalhes de seu longo vestido de festas. Ela se embriaga ao meu lado.

Estava disposto a esquecer o tempo, o passado e a falta que Marina me faz. Estava disposto ao isolamento e a não ter que dividir meus pensamentos com o resto do mundo, além da solidão que me acompanha. Estava quase voltando a ser o que costumava ser, quando o cara do apartamento ao lado resolveu ouvir músicas românticas a essa hora da noite. Foi então que pude perceber que o amor é assim, uma canção do Roberto que toca num rádio, depois acaba, e tocam uma velha canção do Chico para termos aquela nostálgica sensação de que ainda é possível ser feliz para só então depois tocarem uma canção triste interpretada pela Dolores Duran falando de amor.

E o homem do apartamento ao lado parece ter encontrado nas músicas que falam de amor os mesmos motivos que eu encontrei nessa garrafa de vinho que não demora acabar. Isso, por alguma razão, me faz bem. Quase sorrio e meu rosto já não é o mesmo. A solidão se levanta da minha poltrona, deixa em meu colo o exemplar português do Alberto Caieiro e caminha em direção ao apartamento ao lado creio contudo que a vida devidamente entendida é toda assim, toda assim. Por isso passo por mim como por coisa esquecida Ela não suporta o sorriso, mesmo que solitário, mesmo que por um instante, de alguém que por alguma razão encontrou um motivo qualquer para não estar mais triste.

Poema - Quando estou só reconheço - Alberto Caeiro