Aninhou-se em meu colo quando disse que não queria me ver partir. Aconchegou-se entre meus braços e antes de um profundo abraço beijou-me demoradamente os lábios que não puderam dizer qualquer palavra. Beijou e se apertou contra meu peito num triste silêncio juvenil. Adormeceu. Como quando criança e ansiava os dias de festa na esperança de um presente qualquer. Como quando não tinha medos e o futuro era bonito como as tardes de outono onde, com outros meninos, corria pelas ruas em suas brincadeiras estouvadas. Como no tempo em que havia segurança em um simples abraço de boa noite e o futuro não passava de uma data festiva.
Era seu jeito de dizer que me amava. Apertado entre meus braços, feito criança, com os olhos fortemente fechados. Assim atravessamos a noite. Ele aninhado em meu colo, eu em vigília do seu sono.
Como flor que desperta ao sutil toque do orvalho e exala seu perfume por toda manhã ele acorda. Tão docemente abre os olhos como se estivesse submerso em sonhos que eu não seria capaz de desvendar. Eu o vejo sorrir sem entender muito bem se está acordado ou se ainda dorme. Gosto quando ele sorri ao me ver ao seu lado ao acordar. Assim queremos para sempre. Nas manhãs de outono, nos dias quentes de verão, quando chove ou é feriado e podemos ficar mais tempo na cama nos olhando sem a pressa dos dias banais.
– Eu te desvendaria. Mas, às vezes, temos que partir. Só não vou tão longe aonde eu não possa alcançá-lo. Trocarei algumas respotas, usarei outros sotaques, mudarei seu nome para ninguém perceber. Outros olhos não nos verão
Quando criança desconhecia esse encantamento, não sabia dos presentes trazidos pela vida, assim tão de repente, em dias que não são de festa. Presentes trazidos pelo vento, pelos meus desejos, pelas páginas da internet. Creio que só erramos de endereço, pois não estamos tão perto quanto pretendíamos, mas me encontro em pleno gozo pela sua existência. O que me faz esperar quando não o encontro ao meu lado. Pelas tardes desse outono que atravessa as roupas que cobrem meu corpo, pelas noites frias que se seguirão no inverno, pelo tempo em que florescem todas as flores que se parecem com você. Te esperarei pacientemente como quem espera chegar o trem.
Pelas manhãs que se seguem não me cançarei de olhar seu rosto tranquilo enquanto dormes tão docemente feito criança em sono absoluto. Resoluto. Como as crianças que fomos um dia e nossos corações não ditavam as regras. Ficarei olhando-o dormir até o momento de despertares, então poderes me ver deitado ao seu lado. Absorto. E depois de desperto, ele então sentirá o cheiro do café posto à mesa, das flores espalhadas pela casa, pequenas cortinas em renda em janelas tão transparentes e a triste notícia de que terei que partir em instantes.
Seu cheiro de flor-de-manhazinha. Seus olhos abertos. Os cabelos
Ainda caberá ao nosso amor a eternidade. Parto, mas voltarei por todas as noites em que estávamos afastados, por todas as montanhas que separam sua casa da minha, pelas estradas que preciso atravessar. Caberá a cada um de nós o que foi prometido e o mundo então, será nosso. Pois somos maior que o mundo inteiro.
– Meu amor, se alguma coisa me escapou, esqueça qualquer palavra que olvidei. Me espere, pois eu volto antes do jantar.
'Eu te desvendaria' Nao sei mais o que comentar nos seus textos... Fico sem palavras, mas nao da pra ler e deixar passar... So digo que espero anciosa pelo seu livro e pelo seu proximo texto! sinceramente PARABENS! Sou sua fã... voce sabe neah!? beijinhos Renatto!
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