quinta-feira, novembro 11, 2010

Sou sua


Seguro firme o volante e juro, juro por Deus Pai Todo Poderoso, que é a última vez. Paro o carro. Você entra. Boto um som que você curte. Tira essa bermuda que eu quero você sério. Ouvimos Kid Abelhe. Aumento bem o volume para evitar que toquemos em assuntos tão delicados e coloco minha mão sobre sua coxa esquerda. Você acaricia docemente meu rosto e sorri safado, eu desfaleço. Não olho pra você, não te encaro nunca. Você sabe que por dentro estou queimando. Sigo em frente. Vamos para meu endereço.

Deixo você em casa e volto para a minha após jurar ser esta a última vez. Durmo feliz com seu cheiro impregnado em meu lençol. Juro: esta é a última vez e você me liga num dia qualquer dizendo estar no bar da esquina à minha espera. Não espero. Pego o carro e sigo para onde você está. Chego, peço uma Stella Artoir e você me encoxa por debaixo da mesa. Após três, cinco, oito cervejas sua mão entra embaixo da minha saia e eu já quero arrancar toda a roupa e dar para você em cima da mesa diante de qualquer um que queira nos ver. Seguimos adiante, vamos para casa. É a última vez.

E recebo um torpedo. É você com a tarde de folga querendo me beijar AGORA! Dispenso minha equipe, recolho os papéis sobre a mesa, invento um mal-estar qualquer. Em casa, dispenso a faxineira. Passo para te pegar. Meu corpo sucumbe ao imaginar sua mão me tocando fundo nessa tarde suada de quinta-feira. Está consumado. Você me dá febre. Sou sua. Para sempre sei que é nunca mais.

Você me chama pra jantar eu não acredito. Reservo o melhor restaurante. Você fala sobre seus planos, seu passado, seu futuro, seu trabalho, sua vida, me encara nos olhos. Não ouço uma palavra. Te devoro com os olhos. Só você me sacia. Aperto seu pau sobre a calça jeans. Interrompo seu assunto. Pago a conta. Te levo para casa. No caminho você me toca. O ar me falta. Você se despe. O seu jeito de olhar safado é um crime. Juro nunca mais. Abro o ziper do meu vestido e deixo aparecer meu colo. O resto é com você. Garanto que não caio mais nessa.

Você me leva pra dançar no Nigth Club. Me preparo toda pra você. Pinto os lábios. Pinto os olhos. Prendo no cabelo uma flor de maracujá. Perfumo a nuca, os seios, a virilha. Me olho no espelho e prometo nunca mais e você me espera no lugar de sempre. Flores na mão, a barba mal feita, o sorriso que me destrói. Você me conduz em cada dança, me perco em seu compasso. Eu giro ao seu redor de olhos fechados, sentindo seu perfume viajo em você. Seu cheiro me inebria. Entreguo-me no meio da pista. Sou sua só mais esta noite. Garanto!

Acordo às três da manhã. É você à minha janela gritando ser meu Romeu. Eu, feito pobre Capuleto, abro a porta e você, cara de cachorro abandonado, chinelos nos pés, bermuda surrada, me traz à mão um Ferrero Rocher. Olho pra você, você sorri, eu me desmonto. Te convido para entrar você me agarra. Nesta manhã não vou trabalhar. Invento outra doença e fico na cama até mais tarde. Te preparo o café, o almoço, o jantar. Sei que ninguém mais me faz sentir assim, mas prometo, juro junto a imagem de São Judas Tadeu, que é a última vez.

Você me encontra ao acaso nessa tarde magenta. Meu belo horizonte é você que me sorri antes mesmo que eu possa me defender. O coração dispara. As pernas bambeiam. O olhar me denuncia. Eu que jurava não vê-lo nunca mais, não consigo fingir indiferença.


3 comentários:

  1. esse nunca mais, no subconsciente dela é um querer de para sempre. isso com certeza foge do controle dela, mas talves seria melhor tudo acabar, que assim acaba de vez tal ancia por terminar.

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  2. Esse nunca mais é velho conhecido das pessoas apaixonadas...
    A proximidade, o cheiro, o gosto, o desejo não permitem que chegue a hora do adeus. É preciso ficar, é preciso estar, é preciso voltar sempre!
    Lindo o texto...
    Apaixonante!

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  3. Curti. Captou muito bem o sentimento, a fúria do ímã, a fuga pelo medo, a contradição pela fraqueza, a rendição.

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