terça-feira, janeiro 05, 2010

Conto - Dara

Acaso conheci uma mulher chamada Dara. Olhos grandes, ansiosos, duros como a rocha enegrecida. Boca como que desenhada, pele alva, sedosa como quem convida para o toque. Era uma bela mulher. Porém, Dara vivia sob a falsa ilusão de que no amor se encontrava a felicidade humana. Talvez se justifique pela vida que levava. As promessas que acreditara ainda moça quando o frescor da idade lhe permitira. Era casada com Pedro Alcântara de Melo, um sujeito que lhe dava na cara. Um homem tão rude quanto estúpido. Alto, forte e disforme, do tipo que não merecia a mulher que lhe tomara. Mesmo assim, Dara, era apaixonada e desse modo atroz se sentia feliz e, por alguma razão desconhecida, realizada.

Mas como em toda história onde o narrador não outorga o felizes para sempre precisa de um ponto final. Dara por Pedro desencantou. Encontrou um homem que a encantara. Um homem desses de verdade que se apaixona facilmente. Fala mansa, pegada forte, barba na medida do arrepio. Dava vista um homem desses ao seu lado. Nem pensou nas conseqüências ou se conseqüências haveria, se entregou como era esperado, além do necessário e devido a esse fato o romance pouco durou. Porque, de fato, como Dara suspeitava, ninguém a amava como ela almejava.

Amou Paulo, João Fernandes, Antônio, Marcelo, Guilhermo e Josué Bandeira. Abraçou, beijou, se deu. A vida perdia o sentido a cada perda de cada homem que amava. Relutava, esbravejava, atirava na parede os objetos mais frágeis que se encontravam no caminho e se jogava aos pés de cada um, mas era tudo em vão, pois todos, todos, um a um ela perdeu.

Muitos outros também vieram. De todos os lados, de todas as raças, credos e línguas. Tiveram Dara, possuíram Dara no tempo certo de uma trepada apenas. Alguns até se recusaram, nada quiseram, eram homens sem coração. Pensava. Por isso aceitou de volta Pedro, o que lhe dava na cara, era a felicidade que almejara, um homem ao seu lado, mesmo sem poder recusar, o que a vida lhe reservara.
Como toda história que não termina bem precisa sempre de um final qualquer. Dara não acabou sozinha, no entanto não sentindo amada. Da vida perdeu o gosto, a alegria, a vontade. Numa distração acabou atropelada por um inconsequente. Um sujeito que tinha pressa nas coisas, corria para alcançar o tempo, mas parou por um instante e pode ver a conseqüência do seu desatino. Dara só teve tempo de ver os belos olhos do rapaz, olhando-a, angustiado. Era o mais belo rosto que já havia se aproximado de seus lábios. Feliz por ele ter ser condoído e a ter colocado entre seus braços, não sabia que este era o autor de sua desdita. Seus olhos sobre seu corpo traziam de volta a doce sensação causada pela alegria perdida ao lado de Pedro. Era o amor de verdade batendo-lhe à porta. Um homem tão bonito quanto um anjo segurando-lhe a cabeça. Os olhos a correr no decote vermelho do vestido curto mostrando um corpo quase morto e o que os jornais nunca anunciariam: Dara, uma mulher ainda jovem, bonita, que vivia em busca de um grande amor morria lentamente apaixonada nos braços de um homem que não conhecia.

5 comentários:

  1. triste, mas de uma intensidade impressionante. Adorei a forma que deu à narrativa. Abraços.

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  2. Quantas Dara s há no mundo?
    Quantas delas se disfarçam entre Marias, Anas, Amélias ou até mesmo... Laura, sem contar nas tantas outras de sexo feminino...
    Gosto do que escreve.
    Gosto do seu trabalho..
    as vezes tento te acompanhar, mas sem saber o pq eu não consigo. Acho que teatro não é p mim.
    grande abraço!

    Meu blog-zinho

    http://sincetoday.spaces.live.com/

    Laura Layoun

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  3. Ótimo!
    adorei o conto.. final triste² porem interessantissimo. heusheusheusheu
    abração.

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  4. Bastante triste realmente, mas fazer o quê?, no fim as coisas tendem a isso mesmo. Principalmente quando não há o "felizes para sempre". Gostei bastante. Abraços!!!

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  5. muito bom mesmo, super intenso,e até impressionante, ao perceber, que nao é uma ficçao, afinal, quantas pessoas sofrem assim, quantas só percebem o amor quando já nao é mais possivel se entregar à ele...
    final triste, mas real!

    parabeens pelo texto adorei mesmo!

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