sábado, dezembro 05, 2009

De agora em diante

Há um momento em nossas vidas que algumas questões se perdem e perdem importância. Palavras, amor, a pressa, o carro no mecânico, a próxima sessão no cinema, o emprego, alguns amigos, o computador levado pelo menino que mora na rua. A partir de então há outros momentos que nos interessam, e questões que perdem suas importâncias nesse meio tempo.

Buscamos tantos motivos sem os querer encontrar.

Perde-se importância um amor perdido de anos e anos, que valeu à pena numa outra ocasião, quando promessas faziam sentido e havia algum significado no olhar, mas hoje está tão longe que não dói durante lembranças que nos tomam no final da tarde, quando o sol ameaça se pôr, todos querem voltar para casa e nós caminhamos absortos entre pressas e sinais abertos.

Já não tem mais importância amizades que se perderam em momentos que poderiam ter estreitado laços. Pessoas que não se dão mais importância, então, já não importam mais.

Pensamos no ponto de partida e o rumo antigo de tudo que ficou para trás se abre novo.

De agora em diante o tempo é só uma miragem. Transforma a perda num instante bom e o vento sopra a nosso favor. Olhamos adiante, o pensamento está em paz, o acaso ao nosso alcance. E há tantas palavras novas a desvendar. Tempo, folha, jardim, vida, relógio, pedra, infinito. E o que importa na verdade são os segundos que antecedem.

E o mundo se mostra novo. Miramos o tempo e ele permanece o que era. O que se esvaiu se perde no limiar de um novo amor, de outros versos. E há questões que se perdem e perdem importância. Outro amor, um beijo, outro jeito de olhar o tempo, a moça que passa do outro lado da rua e não percebe que a olhamos.

Entre seu mundo e meus olhos.

Hoje sabemos de muita coisa que não conhecemos ou esquecemos que existe um começo, um fim, um intervalo, um recomeço. Escrevemos o que não foi vivido. Escrevemos o que outros já escreveram. Personagens são apenas palavras. Palavras que se transformam e não interessam tanto. Hoje sentimos falta de tanta coisa que não tivemos e nunca nos fez falta. Horas, palavras, honras, fotos, frases, o que penso, devaneio, infinito, mãos atadas, dezembros, sorte, amor, o nada, fim...

4 comentários:

  1. Muito bacana, lindo mesmo! Patrabéns e adiante!!!
    Abração!
    Wolney

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  2. Hm, esse ano estive pensando em coisas assim. É uma espécie de liberdade, não precisar mais do que se foi; realmente um começo. Ah, não tô afim de filosofar agora shaushaus, lindo post ;**

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  3. Parabéns pelo belo blog, Carlos.
    Voltarei mais vezes.
    Abração do
    Roberto.

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  4. Renatto, que texto mais lindo, que reflexão mais delicada. Adorei, adorei demais. Fui acompanhando com aquela vontade que ora quer ver onde o texto vai dar, ora quer que ele não acabe nunca. Lindo demais, meu amigo. Obrigada por esse texto. E Feliz ano novo!!!

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