Admiro estas pessoas que se levantam em meio a apresentações de espetáculos, ou mesmo filmes e shows e voltam para suas casas (ou seja lá para onde vão) abandonando completamente o programa que passaram a semana inteira na intenção de ver. Já presenciei várias destas manifestações silenciosas de repulsa, algumas inclusive em trabalhos assinados por mim.
Na verdade eu venho colecionando estes pequenos repúdios desde a faculdade. Não que meus espetáculos sejam ruins, mas, pelo contrário, eu assumo alguns riscos que alguns espectadores não compram. Quando montei ‘A Intrusa’ de Maeterlink, usei como espaço de encenação o porão de uma casa centenária
Alguns espectadores já saem de suas casas com expectativas criadas sobre o que irão assistir, se é comédia é pra rir, se é drama é pra chorar e pronto. Não sei se isso foi causado por alguns melodramas baratos ou por produções ruins de teatro e cinema, mas o fato é que muita gente não embarca na ‘viagem’ do diretor e acabam se decepcionando com uma intenção a mais ou alguma metáfora além do esperado. Caso do filme ‘Trainspotting’ do diretor britânico Danny Boyle, quando o ator Ewan McGregor, durante um delírio, luta desesperadamente contra uma privada. Pelo que se sabe boa parte da platéia desistia do filme exatamente nessa hora. Outros, mais atentos, compravam a idéia e assumiam os riscos de chegarem até o final.
Eu sou daqueles que fica até o fim, não importa o quanto ruim seja a atração. agora, seu eu me levantar, pode ter certeza, ‘a coisa’ é ruim mesmo. Presenciei certa vez uma retirada em massa num espetáculo duma renomada cia. de teatro de BH. Havia mais de 400 pessoas na platéia, no final do espetáculo os espectadores não chegavam a 15. Só não fui embora de vergonha. Imagina, eu, um quase diretor de teatro, naquela época, que não conseguia ficar até o final de um apresentação? Não ia pegar bem.
Quando digo que gosto de ver pessoas indo embora durante um espetáculo é sério, dá pra dosar direitinho quando o espetáculo é ruim como o caso que acabei de citar, ou quando a platéia não está preparada para as escolhas artísticas da obra, como o ‘Trainspotting’. Não entender as propostas da montagem, ou não perceber o que tem por traz de uma cena mais pretensiosa é uma coisa. Agora, quanto aos espetáculos ruins, taí uma grande chance que artistas e produtores têm de melhorar seus trabalhos.
Certa vez li uma crítica jornalística sobre um espetáculo teatral do Paraná que fez um final de semana em BH, onde o crítico não media palavras para dizer o quanto o trabalho era ruim. Ruim mesmo, texto, direção, atuação e todo resto. Na verdade só o primeiro parágrafo dizia tudo, já que ele começava dizendo que mais da metade da platéia foi embora antes do espetáculo chegar na metade. Fiquei muito curioso pra saber como a companhia tinha conseguido realizar tamanho feito. Eu me recusaria a escrever sobre o espetáculo, escreveria sobre algo que valesse a pena, mas não deixaria de assistir, como também sou alvo de críticas ou fugas em massa é bom que trabalhos ruins façam parte do meu programa de fim de semana para que não entrem no meu repertório.
Pois acho que aqui você levanta uma questão muito delicada, meu amigo. Também já presenciei diversas retiradas em massa de espetáculos e como artista, procuro sempre ficar até o final das peças, se não por prazer, ao menos por respeito aos colegas de trabalho. É essa a minha posição. Por outro lado, não critico alguns espectadores que se retiram, porque de alguma forma é o jeito que encontraram para reagir àquilo que lhes foi aplicado. Hoje em dia gosta-se de dizer que o espetáculo precisa causar algo no espectador, pois sim, muitos causam essa repulsa e o espectador faz sua parte: retira-se. Um querido amigo tem em seu repertório uma peça que não tem fim, ela só acaba quando todos os espectadores se retiram, lembro-me de que quando assisti, fui uma das últimas espectadoras a sair, sentia-me constrangida em fazê-lo embora sentisse que era esse objetivo. O que ele queria com isso? Dentre tantas outras coisas mover os espectadores, causar uma reação à sua ação infinita, ou sei lá, mostrar que o verdadeiro espetáculo nunca acaba, mesmo quando todos já se retiraram...Beijos. Adélia.
ResponderExcluirConfesso que também não tenho coragem de me levantar e sair, muito pelo o que a Adélia disse, por respeito, principalmente, a colegas de trabalho. Mas que já tive inúmeras vezes vontade de me levantar e ir embora, isso já tive. (quem não?) Para mim, fica sendo um exercício assistir a peça até o fim. Vai que no finalzinho algo me surpreenda e faça valer?
ResponderExcluirEu assisti a intrusa que montou, me incomodou bastante, mas alguma coisa alí não me deixava ir embora, talves o medo de encontrar a morte pelos corredores do casarão. rsrs
abraços...
ée.. esse negoço de sair no meio do espetaculo é complicado. eu não ia gostar que saissem no meio de uma apresentação minha, mas tamb não gosto de ficar assistindo o que eu não gosto.
ResponderExcluirno caso dos filmes se eu não gosto não continuo assistindo mesmo, pra que? só pra falar que asistiu ?? pra mim não vale a pena.
gostei do texto. :D
p.s.:no ‘Trainspotting’ a cena do vaso é MUUITO niojenta.. mais vale a pena assisti sim, eu gostei.
Bem lembrado, Renato, 'A Intrusa'. Quando penso naquele trabalho e no que tenho feito hoje em dia... que buraco! Mas aqueles trabalhos me ajudaram mto a pensar nessa fina relação com o público. E Adélia, me desculpa sobre o 'Perdidos', sem querer te coloquei dentro de um experimento... rsrs. (Eu não iria brigar com você caso tivesse ido embora mais cedo)
ResponderExcluirAbraços aos dois
Ô Renatto, assim não dá pra comentar nada aqui, você já disse tudo! ehehe
ResponderExcluirChato mesmo isso de sair no meio das peças, mas faz parte do processo.
essas viajens do diretor sao mesmo pra quem quer entender, a pessoa deve ter um minimo de cultura e gostar de pensar sobre o signifcado da peça ou do filme em questao...
ResponderExcluirta que,realmente, as vezes tentamos ser o mais respeitoso possivel, e assistir até o fim, mesmo que seja a pior peça ja vista por você, mas as vezes fica dificil de aguentar...
ps:adorei seus texos renato, blog otimo...