Sentou-se, pois já não se agüentava em pé.
Pôde ainda ver a porta da sala fechar-se com violência à sua frente. O eco percorreu todos os corredores do prédio em que morava, andar por andar. E a suposta certeza de que os vizinhos já sabiam, por antecipação, o que ocorria, não mais a afligia. Ouvia se exaurir os passos do marido até o elevador, até este chegar e o levar embora para sempre.
Ele se foi.
Maria voltou a estar só.
Só!
Permaneceu sentada em seu sofá por uma, duas ou cinco horas, não se sabe. Ela se perdeu em memórias, nas poucas lembranças que conseguiu reter. Nada de lágrimas. Nada. Tinha no sangue a força de mulheres habituadas a viverem sozinhas. Habituadas a verem partir para sempre a vida, as alegrias, os sonhos.
Como tantas Marias que veio do interior sozinha, anda atrás de um sonho, atrás de qualquer coisa que não sabe muito bem o que é ou o que representará em sua vida. Veio atrás de algo que viu na TV, ainda menina, quando a luz elétrica chegou onde morava, e este fato significava muito para uma menina de 12 anos. Deixou para trás a mãe, os irmãos menores, o irmão que partiu antes dela, o pai já morto, a sina que não queria para si. Veio como o vento.
Com o que a cidade poderia representar, descobriu ainda na chegada, que mulher aqui tem que ser guerreira, mais que qualquer mulher de qualquer lugar. Mais que Maria. Mas o que aprendera na vida não era o suficiente para o que sonhara. Talvez a moça da novela soubesse coisas que deveria aprender. Com isso aprendeu a usar batom, a soltar o cabelo, a encurtar o vestido, no entanto, casou-se logo.
Mas, Maria agora anda só.
Faz o que faz qualquer mulher que veio de qualquer lugar, pois essa lida ela traz no sangue. Trabalha em casa de gente importante e na observação diária do que seria certo de se fazer aprendeu a ser importante também e a não dar importância a isso. Ficar só talvez fosse sina. Lavar, passar, cozinhar era sina, e na lida diária do que deveria ou não ser feito aprendera que sonhar também é sina pra mulher que veio de longe, assim como sabe que os sonhos que tem estão sempre onde seus pés não podem tocar.
Pôde ainda ver a porta da sala fechar-se com violência à sua frente. O eco percorreu todos os corredores do prédio em que morava, andar por andar. E a suposta certeza de que os vizinhos já sabiam, por antecipação, o que ocorria, não mais a afligia. Ouvia se exaurir os passos do marido até o elevador, até este chegar e o levar embora para sempre.
Ele se foi.
Maria voltou a estar só.
Só!
Permaneceu sentada em seu sofá por uma, duas ou cinco horas, não se sabe. Ela se perdeu em memórias, nas poucas lembranças que conseguiu reter. Nada de lágrimas. Nada. Tinha no sangue a força de mulheres habituadas a viverem sozinhas. Habituadas a verem partir para sempre a vida, as alegrias, os sonhos.
Como tantas Marias que veio do interior sozinha, anda atrás de um sonho, atrás de qualquer coisa que não sabe muito bem o que é ou o que representará em sua vida. Veio atrás de algo que viu na TV, ainda menina, quando a luz elétrica chegou onde morava, e este fato significava muito para uma menina de 12 anos. Deixou para trás a mãe, os irmãos menores, o irmão que partiu antes dela, o pai já morto, a sina que não queria para si. Veio como o vento.
Com o que a cidade poderia representar, descobriu ainda na chegada, que mulher aqui tem que ser guerreira, mais que qualquer mulher de qualquer lugar. Mais que Maria. Mas o que aprendera na vida não era o suficiente para o que sonhara. Talvez a moça da novela soubesse coisas que deveria aprender. Com isso aprendeu a usar batom, a soltar o cabelo, a encurtar o vestido, no entanto, casou-se logo.
Mas, Maria agora anda só.
Faz o que faz qualquer mulher que veio de qualquer lugar, pois essa lida ela traz no sangue. Trabalha em casa de gente importante e na observação diária do que seria certo de se fazer aprendeu a ser importante também e a não dar importância a isso. Ficar só talvez fosse sina. Lavar, passar, cozinhar era sina, e na lida diária do que deveria ou não ser feito aprendera que sonhar também é sina pra mulher que veio de longe, assim como sabe que os sonhos que tem estão sempre onde seus pés não podem tocar.
voo fazê companiia pra maria !! :)
ResponderExcluirRenato,
ResponderExcluirlegal saber um pouquinho da sua personagem Maria, muito bacana o conto!
BRAVO!
ResponderExcluir...assim como sabe que os sonhos que tem estão sempre onde seus pés não podem tocar.
forte isso!
Meus pés serão lavados pelos meus sonhos, me lavarei por completo de realizações.
Laura Layoun. lauralayoun@gmail.com
preciso da sua ajuda Renatto, me mande um e-mail por favor?
Grata!
VIVA NOSSA ARTE! NOSSO EQUILIBRIO!
"Veio como o vento." As palavras certas, usadas no texto certo, pela pessoa enviada com o dom de fazer oraçoes... Parabens! GabYzinha do Fulô
ResponderExcluirRenatto, que delicadeza de texto. Adorei.
ResponderExcluirCada dia gosto mais do que escreve, me encanto.
Beijos